Vamos a mais texto com título clichê. E com ideias pré-estabelecidas? Não sei. Mas o que posso dizer é que essas linhas expressam um pouco como minha carreira foi se desenvolvendo, e consequentemente, os caminhos que a minha vida foi tomando.
Trabalho há 20 anos com comunicação.
Comecei com aquela gana de trabalhar em grandes agências, no coração delas (pelo menos lá trás, a criação era o centro de tudo – ainda bem que isso mudou), criando, dando sangue, e esperando um reconhecimento que geralmente não vinha. Isso não é uma crítica a antiga cultura da propaganda (mentira, é sim), onde se chicoteava os júniores para eles “criarem casca”. Mas, aos alecrins dourados da nova geração (não estou generalizando aqui), criar casca também é muito importante. Não só para a carreira, mas também para vida. Pois, adivinhem: ela não é sempre bela.
Quase tive um burnout com as experiências que tive em agências. Nunca me adaptei aos modelos que na época funcionavam (será mesmo que funcionavam?). Resolvi respirar novos ares para não largar a minha formação. Passei por veículo, por clientes, novos ramos de atuação, mas sempre dentro da comunicação (mas não larga o osso, hein?). E foram experiências excelentes na maioria das vezes (foram sim, mas há um arrependimento nesse meio do caminho, sempre há).
Nas últimas experiências que tive, conheci pessoas diferentes daquelas que estava acostumado a conhecer no mercado, e comecei a perceber que não existe um modelo certo para se desenvolver um trabalho. Desde que ele seja bem desenvolvido, e que se adapte minimamente ao local onde você está naquele momento, tudo certo.
E isso acontece também fora da vida profissional. Em 2013 tive uma desilusão amorosa daquelas pesadas. Após o término de um relacionamento curto (fico pensando se dá para chamar assim aquela situação) não tinha vontade de sair, interagir com ninguém, só queria ficar em casa sem fazer nada (aceitem conselhos dos mais chegados, mas só faça as coisas se estiver a fim – sim, aqui fica um toque para você lamber as feridas no seu tempo). Até que vi uma tela de pintura em branco parada em um canto. Resolvi me arriscar para ver o que sairia. E não é que ficou bom? Não a pintura em si, mas o que senti quando estava pintando.
A partir dali comecei a recuperar a vontade de fazer coisas novas e um pouco da minha criatividade. Experimentei (e ainda experimento) novas técnicas, pintei diversos temas, fiz aulas. E sempre ficava com aquela vontade de mostrar meu trabalho para além da torcida (família e amigos, que sempre dizem que está lindo). E mais uma vez, tinha uma espécie de entrave ou censura: tinha que achar um estilo, uma forma única que representasse a minha obra. E qual a forma de criar essa identidade? Um estilo de traço, uma forma?
No meu caso não foi nada disso. Foram pinceladas e palheta de cores fortes, que representam algo sem muito ensaio, visceral. E vi que essa é uma das minhas características mais intrínsecas. Tanto na carreira, quanto na vida (coisa que não aconselho muito).
E na arte achei um modo de trabalho que me deixa realizado. Não sei se essa é a palavra correta – acho que aliviado se encaixa melhor. Planejo o que vou pintar, faço alguns ensaios antes de ir para a tela, mas a partir do momento que estou nela, é pra valer. Não corrijo, faço muita cagada (sim amiguinhos, é na m... que a gente chafurda e aprende muita coisa), deixo para ver o resultado. E não é que geralmente a coisa me satisfaz?
Mas como isso me trouxe de volta para o mundo das agências?
Me trouxe autoconhecimento. Um grande amigo (aqui não é eufemismo, ele é grande mesmo), me chamou em meados de 2020 para fazer um teste onde ele estava trabalhando. Com um pessoal mais sênior, macaco velho mesmo de agências e de comunicação. Pessoas que têm os seus próprios processos de criação e compreendem os dos outros. E comecei a aplicar esse método que uso na arte para voltar a escrever.
E não é que funcionou? Estava com muito receio em voltar para agência, mas em pouquíssimo tempo senti uma sintonia com o trabalho e com a rotina, que há muito não sentia.
Não adianta, você tem que fazer aquilo que te faz bem, independente do campo da sua vida. Independente se aquilo alguma vez te feriu. Pode parecer papo gratiluz de coach, mas é verdade. Faz muito bem oxigenar, ver e experimentar coisas novas, se aventurar. Mas por que não voltar para uma atividade que você desempenha bem, mesmo que ela não tenha sido muito frutífera no passado?
Claro que de forma diferente. Com mais experiência. Sabendo balancear todos os campos da vida. Aproveitando do melhor jeito todos eles. E agora, colhendo os frutos.
E aqui na Tingle, o que eu posso dizer, é que temos isso. E, com toda a paciência, eles me deram a oportunidade de voltar a fazer uma coisa que sempre adorei. E o melhor, com o meu jeito meio caótico de criar. Respeitando isso.
Tudo, e ainda, bem que o modo de se escrever nesse mercado mudou bastante durante a minha ausência. Que o que vale hoje é uma redação com mais conteúdo, menos “sacadorística”. Que se pensa mais na entrega para o cliente do que em prêmios (dinheiro põe comida na mesa, não Leões, Corujas e Lápis). E que o mercado está mais “maduro”. Pois esse é o meu perfil de escrita.
Eu voltei. E voltei para ficar? Por enquanto, sim. Até quando a Tingle me aguentar. Bernardo Gonçalves Head of Content
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